Eu
bem sei que essa deveria ser a parte fácil. Eu bem sei que essa deveria ser a
parte que não sinto medo, nem dor. Só que na procura de quem sou, me perco. E tem o furacão das pequenas tragédias cotidianas me perseguindo. E tem a responsabilidade de
me saber tão consciente que aprisiona.
Não,
eu também não compreendo. É difícil se sentir sozinha no meio de tanta gente. É
difícil sustentar a escolha de preferir não falar, não se envolver, não dar a
chance ao mundo de virar as costas pra você.
Tudo
bem, pode me chamar de covarde, eu sei que sou. Estou tão repleta de mim por
dentro que queria dividir, mas não vou. Quando a gente se doa pra um mundo tão
mesquinho acaba por perder aquela parte essencial e tem que juntar todos os
cacos novamente.
E eu bem sei que
essa deveria ser a parte difícil. Viver o luto intensamente, colar cada
pedacinho de mim, me refazer e voltar pro jogo. Só que isso não é um jogo e eu
já montei esse quebra-cabeça vezes demais pra tirar algum proveito.
Olha, eu sinto
medo, eu sinto dor. Dor demais. Eu sou humana e tenho mais defeitos e mais
superstições do que gostaria. Eu queria tirar todo esse gosto amargo da boca,
essa ressaca de vida que me persegue a cada coração que quebro e me quebro.
Eu vou embora,
eu tive que escolher ir embora pra me refazer. Eu precisei pedir licença de
tudo isso pra abrir meus horizontes. Eu precisei abrir mão de tudo que amo pra
finalmente libertar minha alma.
Porque eu a
sinto todos os dias como um passarinho engaiolado. Minha alma pedindo pra voar,
o passarinho que deixou de cantar por tristeza. Me deixa cantar, me deixa ir
além. Eu quero ser eu mesma pra poder ficar.
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