Tuesday, November 22, 2011

Peso Morto

O coração hoje acordou batendo mais devagar. E eu senti uma necessidade insana de escrever. A tela cheia de frases inacabadas, de textos sem fluidez. Eu queria apenas externar o sofrimento, passar pro papel minhas angústias e me sentir um pouco mais leve. Mas eu não conseguia, nem isso mais me era permitido.


O coração hoje acordou batendo mais devagar. O vento soprava forte, o calor era brutal, e eu queria que minha pele se desintegrasse pelas intemperes e o meu vazio se espalhasse no ar. Nem mesmo o vislumbre de produzir, de fazer o que mais amo nessa vida, me aliviava. Me sentia um peso morto, à merce da gravidade, tentando dar mais um passo.


O coração hoje acordou batendo mais devagar. Mas eu sabia que isso não duraria muito. As escolhas são minhas, o movimento contrário taí. Quem sou eu pra me alimentar de sofrimento e deixar que ele crie vida própria?

Friday, November 04, 2011

Sensações

Ainda com delicadeza, buscava com os dedos a nova cicatriz em meu corpo. Parte daquilo que fui e que estava me tornando.


Não acalentava mais sofrimento algum em meu peito, tinha decidido que assim seria. Buscava a realidade, ainda que dura, com uma sensatez nunca antes experimentada. E isso era fruto da história que havia vivido e do novo olhar conquistado. Conquistei de maneira natural, dolorosa até, mas era doce.


Doce como a espuma do mar agitado passando por meus pés descalços na areia molhada. Uma calma, por vezes revolta, querendo respirar tudo o que passava por mim, querendo sentir de maneira completa os milagres cotidianos que assistia.


A vida não poderia estar dando mais certo.


Mentira, é claro que poderia. Sim, poderia! Haviam desejos gritando em minha pele, sedentos por mais. E eu não conseguia silenciá-los, estavam parte de mim agora, rasgando a alma serena, desajeitadamente construída. Mas eu conseguia tudo o que queria, uma força interior, uma teimosia infantil me acompanhava pelo caminho. Os desejos eram, finalmente, distraídos com um pouco de confiança, aceitação e fumaça.


Fome, sede, sono. Vontade de produzir. Tudo era demais aqui. Anseio por liberdade, soltar as amarras, me desapegar. É tudo uma questão de prática, no final das contas, simplificar. Coleciono informações em meu corpo, mas meu coração é um só e a mente pede para que seja simples. Coração e mente, emoção e razão – eles haviam feito as pazes novamente, mas sem a austeridade de outrora.


Não havia espaço para compartilhar, não nesse momento. Já tinha perdido demais tentando ser mil, de tudo e de todos. A vida me chamava para uma aventura deliciosa, as maravilhas saltavam aos meus olhos e não havia tempo para olhar pra trás. Agora, o momento era meu. Simples.


Acariciava novamente minha cicatriz. Perfumes, gostos, toques. Tudo estava ali, bem a minha frente, pedindo para ser experimentado. E porque não?


“A dor é inevitável, o sofrimento é opcional.” C.D.A.