Eu
costumava vir aqui quando era mais nova. Eu costumava vir aqui quando meu mundo
tava caindo e eu achava que era tudo frio. E era, de fato, tudo frio. Tinha
esse vento cortante, a minha garganta sempre ruim e esse mesmo moletom preto.
Quando meu mundo tava caindo e eu precisava me encontrar, cruzava as pernas e
olhava esse mar, deixando meus olhos se perderem no meio da escuridão.
Aqui, quando o sol já se foi, o
horizonte se funde com o mar e só resta a espuma branca das ondas. Assim, eu
posso esvaziar a mente e o infinito me carrega, eu entro em comunhão com essa
calmaria simulada no caos.
Eu
não lembro se tinha música, mas hoje tem. O som inebriante do mar se mistura
com a melodia calma e eu me acalmo. Eu me busco e eu me encontro. Diante disso
tudo, não há nada mais bonito que se permitir ser só e ao mesmo tempo ser o
mundo. A prisão da angústia do corpo é carregada pelo vento como se fosse um
carinho. A natureza me faz carinho e me acolhe. E toda a mesquinhez do homem
perde o sentido, a tragédia se desfaz.
Pra,
então, de repente, a onda bater na pedra, a água elegantemente se joga aos céus
e um sorriso finalmente aparece em meu rosto. Ah, o alivio. O caminhar para
casa, com passos lentos, como se meus pés soubessem – e eles sabem – que eu não
deveria ir embora. É aqui que eu pertenço. Aqui e em tudo, porque não há
limites pra harmonia.
E,
dessa vez, eu espero que ela fique. Espero que ela fique e a beleza do mundo
dentro de mim se perpetue. Vou cultivar com carinho todas essas coisas que me
fazem ter certeza do que sou. A calma e a paz que aqui habitam, no fechar dos
olhos e no sentir do peito aberto na antagônica queda-livre ao infinito. Mas,
se ela não ficar, eu volto amanhã. E depois e depois. Até que eu não precise
mais pensar nessa existência e só sentir. Tão intrínseco quanto inevitável.