Eu estava pronta para dessa vez não deixar ninguém entrar. Eu estava pronta, e tinha uma certeza tão clara que nada iria acontecer que, finalmente, me sentia livre. Uma sensação de liberdade nunca antes sentida, nunca antes respirada tão profundamente, e se tornou assustadora. Porque a mais triste verdade é que nascemos sozinhos e morremos sozinhos, mas temos a mania de insistir no erro de ter alguém ao nosso lado para acompanhar.
E eu via tudo a minha volta desabar, o meu drama se repetindo em outros corpos, outros rostos. A minha impotência, aliada ao querer bem dessas outras pessoas, causava um maremoto em minha mente. Eu queria explicar para elas como é simples sofrer, quanto é reconfortante se sentir desamparado, como os olhos inchados e as lágrimas quentes escorrendo no rosto são uma boa companhia. Queria fazê-los entender, de uma vez por todas, que o sofrimento é uma benção, que são nesses momentos que se sabe que ainda resta algo de humano aqui, e que, não importa o quanto os anos nos tornaram mais frios, ainda somos capazes de sentir.
Eu não queria deixar ninguém entrar, queria aceitar a solidão a qual fui sentenciada, mas, ao mesmo tempo, tinha uma ânsia por sentir, chorar, viver aquela dor toda de novo. Porque, além da frieza, os anos me trouxeram o pessimismo e o ceticismo de quem não acredita mais no amor, de quem tem certeza que tudo acaba em sofrimento e que os momentos bons do inicio serão esquecidos diante do inevitável.
Eu não queria deixar ninguém entrar, mas eu iria. Existe algo aqui dentro que palavras não são capazes de exprimir, uma esperança insana de que os anos vão passar e que não serão em vão.