A verdade era que eu tinha medo, muito medo, por isso voltei a escrever. A distância entre o ontem e o hoje era imensa, quase dois anos, porém a sensação de perigo se repetia.
Não sabia muito bem o porque disso, mas tinha a mais profunda certeza de que não iria dar certo - talvez, até porque eu não quisesse, no fundo.
O fato é que ao chegar no apartamento, me sentei no sofá e voltei no tempo. Aquilo não poderia estar acontecendo de novo. Você nunca vai aprender? Você já não sofreu o suficiente? Quanto drama.
O olhar dele se perdia nas cores vibrantes da televisão. O olhar dele sempre se perdia quando estava por perto. As palavras sempre soaram falsas e os olhos sempre distantes. Era como se eu fosse uma figurante num filme que ele deveria estrelar.
Porque me procurou então? Para provar algo que não precisava e que eu, muito menos, ia mudar? Não foi por falta de tentar, quer dizer, até foi. Mas eu simplesmente não tinha capacidade, nem maturidade suficiente para agir de outra forma, sabendo de tudo o que eu sabia.
Porque eu sabia, e isso eu sabia muito bem, onde ele queria chegar quando me chamou pra conversar. E eu não ia fugir, eu nunca fugi.
O problema era que ele tinha tanta certeza quanto eu que aquilo não ia levar a lugar algum, aquilo não foi feito pra nos levar a lugar algum. Éramos apenas duas pessoas machucadas tentando suprir uma carência que deveríamos superar sozinhos.
Somente o abraço e os carinhos foram reais, e, de repente, nem isso foi. O que aconteceu foi um passeio no passado, um sonho relembrado - se é que se pode chamar isso de sonho.
Isso tudo porque a prova real de mudança não chegou e nem iria chegar.