Wednesday, December 05, 2012

obrigado

E se não fosse pra me perder, eu nem teria começado. Antes, comecei porque me perdi. E me perdi tanto em alegrias e encontros, em viver sem esperar que atraquei. Atraquei meu corpo em teu sonho, já que os meus são tão fugidios. E tua casa se tornou minha, ainda que não soubesses, acalentando todo vazio do outono.
Amorrr, quero te dizer obrigado.
Hoje tô sentindo meu peito explodindo de esperança, como se eu não coubesse em mim de tanto desejo de produzir. E todo aquele vazio que habitava aqui, a espiral de desespero descendente que como um buraco-negro engole toda a minha luz, se desintegrou. E o que era abismo se transforma em paixão. Combustível pra explosão que me é inevitável e, por medo de me saber tão especial e mágica, evitei. E quando o transcendental em mim me foge, me escondo e me apago. E pela tua habilidade quase desproposital de me fazer enxergar o melhor em mim, floresço.
Escuto do meu silêncio, as palavras da minha língua. Te escrevo por uma necessidade interior, irreparável, que grita de vez em vez e é urgente expressá-la.
Amorrr, quero te dizer obrigado. Obrigado por aparecer na minha vida e aqui, nesse país que me é tão hostil. Foi tudo calculado, pelo teu defeito odiado, mas obrigado. O destino que me deu a mão e me conduziu até você e você a mim, vai nos levar além.
Amorrr, quero te dizer obrigado.

Tuesday, November 06, 2012

six months on the winter's gone.

e eu realmente não sei como lidar com isso. eu realmente não sei com o estar presente.
eu sempre quis que a vida fosse uma dádiva, mas a hipocrisia escorre da minha boca quando digo que acredito.
porque é tão difícil ser humano? porque o ser inteira rasga o peito quando se busca?
eu to aqui, eu to tentando. mas, de tempos em tempos, as lágrimas querem rolar, a boca seca, a garganta turva.
turva porque eu não vejo os presentes, o presente.
eu desacredito e sigo em frente.
e curva.
o frio curva as costas um dia retas, abertas, livres. e eu só posso dizer que é ruim e dói.
a cada vento cortante e pernas dormentes de frio, dói.
a cada dia sem produzir o que acredito, dói.
a cada decepção inesperada e inevitável, dói.
falta música e sobra sorrisos. sempre. deles, não posso me livrar.
é que é tão bonito poder fazer alguém se sentir melhor só com energia, com um abraço.
eu me boto de lado e sorrio.
mas eu quero um sorriso. eu quero um abraço.
eu quero o que eu não posso encontrar ai, e nem sei se posso encontrar aqui.
eu quero o que não pode ser nomeado.
eu quero uma paixão arrebatadora pela minha pintura.
eu quero um colo dele pra mim.

Monday, May 21, 2012

queda-livre ao infinito.

A verdade é que eu tinha medo, muito medo, por isso voltei a escrever. De novo.


Eu costumava vir aqui quando era mais nova. Eu costumava vir aqui quando meu mundo tava caindo e eu achava que era tudo frio. E era, de fato, tudo frio. Tinha esse vento cortante, a minha garganta sempre ruim e esse mesmo moletom preto. Quando meu mundo tava caindo e eu precisava me encontrar, cruzava as pernas e olhava esse mar, deixando meus olhos se perderem no meio da escuridão. Aqui,  quando o sol já se foi, o horizonte se funde com o mar e só resta a espuma branca das ondas. Assim, eu posso esvaziar a mente e o infinito me carrega, eu entro em comunhão com essa calmaria simulada no caos.
Eu não lembro se tinha música, mas hoje tem. O som inebriante do mar se mistura com a melodia calma e eu me acalmo. Eu me busco e eu me encontro. Diante disso tudo, não há nada mais bonito que se permitir ser só e ao mesmo tempo ser o mundo. A prisão da angústia do corpo é carregada pelo vento como se fosse um carinho. A natureza me faz carinho e me acolhe. E toda a mesquinhez do homem perde o sentido, a tragédia se desfaz.
Pra, então, de repente, a onda bater na pedra, a água elegantemente se joga aos céus e um sorriso finalmente aparece em meu rosto. Ah, o alivio. O caminhar para casa, com passos lentos, como se meus pés soubessem – e eles sabem – que eu não deveria ir embora. É aqui que eu pertenço. Aqui e em tudo, porque não há limites pra harmonia.
E, dessa vez, eu espero que ela fique. Espero que ela fique e a beleza do mundo dentro de mim se perpetue. Vou cultivar com carinho todas essas coisas que me fazem ter certeza do que sou. A calma e a paz que aqui habitam, no fechar dos olhos e no sentir do peito aberto na antagônica queda-livre ao infinito. Mas, se ela não ficar, eu volto amanhã. E depois e depois. Até que eu não precise mais pensar nessa existência e só sentir. Tão intrínseco quanto inevitável.

Friday, May 04, 2012

e a batalha dos amarelos e violetas.


O que mais me irrita, na verdade, é esse cárcere em forma de corpo. Eu sei exatamente o que eu quero fazer, o que funciona e a pincelada certeira. Só que minha mão me obedece demais. Ela insiste em não ouvir os devaneios da mente e esquece que também é sentimento.
Porque tudo o que quero, nada mais é, que pintar com o coração, esquecer todo o caminho que separa o que eu sinto e a minha mão com o pincel. E assim erro, tento consertar, insisto no erro, começo tudo de novo. Só que essa luta que travo diariamente com as cores e formas é desgastante, demanda coração demais pro meu pequeno.
E é como se eu pudesse sentir a dor chegando e a angústia pontando a cada milimini-gramas de tinta que coloco sobre o suporte. E a cada passo, a cada meias maratonas de milhões de quilômetros que percorro no afastar e aproximar do filho.
É que eles são como filhos, os estudos, os quadros, todos eles tem um pedaço tão grande de mim que são como filhos. E eu seria uma péssima mãe, tantos natimortos existem espalhados por ai. Porque as formas, tão esforço faço para aparecerem, acabam impregnando na retina e eu não consigo enxergar mais nada. É preciso abandonar e seguir em frente.
Ir em frente, dar o primeiro passo fácil pra esperar o próximo difícil que ai se torna fácil e eu, capenga, poderei soltar todo o corpo numa energia só e todas as cores que quero não mais batalharão comigo. Eu e o mundo mais, todos primeiro impulso.

Saturday, April 21, 2012

diálogos noturnos.


Eu bem sei que essa deveria ser a parte fácil. Eu bem sei que essa deveria ser a parte que não sinto medo, nem dor. Só que na procura de quem sou, me perco. E tem o furacão das pequenas tragédias cotidianas me perseguindo. E tem a responsabilidade de me saber tão consciente que aprisiona.
Não, eu também não compreendo. É difícil se sentir sozinha no meio de tanta gente. É difícil sustentar a escolha de preferir não falar, não se envolver, não dar a chance ao mundo de virar as costas pra você.
Tudo bem, pode me chamar de covarde, eu sei que sou. Estou tão repleta de mim por dentro que queria dividir, mas não vou. Quando a gente se doa pra um mundo tão mesquinho acaba por perder aquela parte essencial e tem que juntar todos os cacos novamente.
E eu bem sei que essa deveria ser a parte difícil. Viver o luto intensamente, colar cada pedacinho de mim, me refazer e voltar pro jogo. Só que isso não é um jogo e eu já montei esse quebra-cabeça vezes demais pra tirar algum proveito.
Olha, eu sinto medo, eu sinto dor. Dor demais. Eu sou humana e tenho mais defeitos e mais superstições do que gostaria. Eu queria tirar todo esse gosto amargo da boca, essa ressaca de vida que me persegue a cada coração que quebro e me quebro.
Eu vou embora, eu tive que escolher ir embora pra me refazer. Eu precisei pedir licença de tudo isso pra abrir meus horizontes. Eu precisei abrir mão de tudo que amo pra finalmente libertar minha alma.
Porque eu a sinto todos os dias como um passarinho engaiolado. Minha alma pedindo pra voar, o passarinho que deixou de cantar por tristeza. Me deixa cantar, me deixa ir além. Eu quero ser eu mesma pra poder ficar.

Thursday, February 23, 2012

Pra poder ir além

Eu tenho fome de amor, fome de paz. Tenho fome de sinceridade. Eu tenho fome de peito e mente abertos. São nossas escolhas que nos fazem, são os segundos que precedem o caos ou a harmonia. É preciso ter coragem e força, é preciso sabedoria. Não somos apenas mais um na multidão, somos completos por natureza.

Tomara que a gente possa carregar pra sempre a plenitude de saber-se responsável por tudo aquilo que emanamos.

Pela manhã, doeu e as lágrimas caíram. Nunca foi tão difícil chorar. E, depois de tanto tempo com o coração gelado, me assustei com tamanha espontaneidade. Não que eu quisesse ser assim, mas na minha busca pela sabedoria, achei que meu espírito era livre. E é.

Não é necessário fugir da dor, ela nos faz humanos. E a dor foi de verdade. Veio de dentro, sabe? Tão sincera no seu percorrer do estômago ao peito, então pra boca e olhos pra, assim, a chuva se precipitar dali. Silenciosa, calma. Plena de si. Não havia desespero, energias ruins, só a certeza da impotência. O desamparo tremeu todo meu corpo e um abismo se abriu aos meus pés.

Depois veio a ausência de sentimentos, quando a gente se sente tão, mas tão vazio que o olhar se perde ao longe. Pensei que estivesse errada, que tivesse cavado minha própria cova. E tudo isso pecava pela falta de sentido. Contei uma fábula, dessas assustadoras, pra mim mesma.

Ainda bem que o sol se pôs e, com a lua, veio a calma. Então, não foi mais preciso temer o destino e todas aquelas superstições bobas que insisto em carregar. E o texto pôde ser escrito, e a tensão escapava por meus dedos trêmulos a cada letra digitada.

A sequência, um tanto quanto esquizofrênica, dos parágrafos, das palavras e falas me permitiu ir além. Além do estigma do escrever. Além do estigma que carregamos todos os dias, nos consumindo. A necessidade de ser “normal” que nos castra, nos menores detalhes, da forma mais sutil. Eu estava soltando as amarras aos poucos, e, aqui, se foi mais uma.

Vem que vai ter amor, vai ter paz. O respirar fundo que faz a alma extrapolar o corpo e atingir o céu. “Simple gold and eternity blessing all.”

Monday, February 06, 2012

Das escalas de cinza.

Eram apenas uma silhueta e a minha miopia, mas isso bastou pra que as malditas pernas tremessem e o estômago entrasse em queda livre ao chão. Eram apenas alguns metros de distância e a minha insegurança, mas isso bastou pra que passássemos como dois estranhos numa coincidência esperada.

E a mulher que eu achei que era, desaparecia ali. Ali e todas as vezes que seu corpo se conjurava na minha frente. É que ele ainda exercia algum tipo de poder sobrenatural sobre mim, poder que eu negava e ridicularizava até a morte. Porque, sim, eu estava certa em o fazer: quando a razão voltava ao meu sangue - ou quando o sangue, de fato, voltava às veias -, eu sabia que não havia nada, era apenas um homem, desses que a gente encontra em qualquer esquina, mas se dizem tão especiais.

Mas tem a raiva e o rancor. Aquela pontada no coração e no ego por não ter conseguido sua posse. Posse que não pertence a mim, com a qual nunca me importei, a qual nunca desejei por nada, nem ninguém – a não ser que não me fosse permitido.

Era isso: a luta por poder. A incompatibilidade de gênios resumida a mesquinha disputa de quem sairia por cima. A ternura foi atropelada por uma busca desenfreada por um par. O cuidado foi, simplesmente, ignorado por uma urgência que, sabe-se lá porque, apareceu em nosso encontro. Me entristece saber que tal mudança é possível, que algo por ai permite tamanho desastre.

Tudo bem, a minha poesia permanece intacta. O meu lirismo e a minha dor, minhas alegrias e meu caminho. Tá tudo aqui. Com o tempo, a gente aprende que o preto e branco não existe e a grande escala de cinza que permeia nossas vidas é inevitável. Tomara que incomode mais a mim e seja indiferente pra ele. Afinal, pra todo corpo, existe uma alma e é isso que importa.

Era apenas isso e mais todos os meus sentimentos que permanecem uma incógnita. Eu sei que pode parecer impróprio, mas não tenho medo de me expor assim. Eu não tenho medo. O medo é uma mentira. Eu só queria que meu corpo me desse uma trégua, pra que a mesma trégua que articulei entre meu coração e a razão pudesse vir à tona. Eu queria paz pra ser igual. Porque somos. Todos somos.